Jorge Fernando dos Santos

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De volta à Feira de Frankfurt

A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) acaba de divulgar a lista de autores brasileiros que vão participar, em outubro, da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha. O Brasil é o convidado de honra deste ano e a escolha dos nomes coube aos curadores Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha de S. Paulo; Antonio Martinelli, do SESC de São Paulo; e Maria Antonieta Cunha, da própria FBN.

Com exceção de alguns “novatos”, a comissão optou pela maioria de autores “consagrados” nacionalmente. A grande maioria dos convidados pertence ao hall dos “autores oficiais”, que não precisam do dinheiro público para participar de eventos no exterior e que já estiveram em Frankfurt em outras ocasiões.

O mais curioso é que a maioria dos nomes da lista (veja abaixo) representa o eixo Rio-São Paulo. Mesmo mineiros ilustres como Affonso Romano de Sant’Anna, Luiz Ruffato, Ziraldo, Fernando Morais, Ruy Castro e Silviano Santiago optaram por sair de Minas há mais tempo que a idade de alguns autores locais, que ainda não tiveram a oportunidade de “aparecer” nacionalmente. Se a verba é federal, o critério deveria ser regional.

O exemplo de Bartolomeu

Alguns podem perguntar qual seria minha reação se meu nome figurasse entre os convidados. Aqueles que me conhecem sabem que eu jamais abriria mão de uma boa polêmica. Lembro que, durante uma palestra, alguém perguntou ao saudoso Bartolomeu Campos de Queirós como ele se sentia sendo traduzido lá fora. Bartô sorriu e disse que se sentiria mais realizado se seus livros fossem mais lidos no Brasil – país cujos índices de leitura figuram entre os piores do mundo.

Ano passado tive um livro incluído no catálogo de Frankfurt. Este ano, pela sexta vez, tenho um título na Feira de Bologna, na Itália. Claro que isso faz bem ao ego e ajuda a divulgar nossa obra no exterior. No entanto, não vendi nenhum exemplar a mais por isso. Literatura de qualidade é o que não falta no Primeiro Mundo. A FBN deveria priorizar investimentos no Brasil, principalmente em lugares distantes do eixo Rio-São Paulo.

Pela própria lógica do mercado, a participação de autores brasileiros em eventos internacionais interessa diretamente às editoras, já que as traduções podem ser lucrativas. A maioria dos autores nacionais (inclusive “consagrados”) não tem espaço nem mesmo nas prateleiras das poucas livrarias do país. Se a lógica é a do mercado, vale lembrar que a preferência do diminuto público leitor brasileiro é cada vez maior pelos best-sellers internacionais e pelos livros de auto-ajuda.

Por essas e outras, parece um luxo o Ministério da Cultura investir na divulgação literária em países de economia em crise, enquanto por aqui temos péssimos índices de alfabetização e letramento. No setor infantojuvenil, por exemplo, o que nos salva são as adoções em escolas e as compras oficiais para bibliotecas públicas – onde os livros nem sempre são bem “trabalhados”. Portanto, passa da hora de priorizarmos a divulgação dos autores brasileiros no próprio território nacional. Mas com critério justo e igualitário, que inclua todos os estados da federação.

Lista completa de autores:

Adélia Prado (MG)
Adriana Lisboa (RJ)
Affonso Romano de Sant’Anna (MG)
Age de Carvalho (PA)
Alice Ruiz (PR)
Ana Maria Machado (RJ)
Ana Miranda (CE)
André Sant’Anna (MG)
Andrea del Fuego (SP)
Angela Lago (MG)
Antonio Carlos Viana (SE)
Beatriz Bracher (SP)
Bernardo Ajzenberg (SP)
Bernardo Carvalho (RJ)
Carlos Heitor Cony (RJ)
Carola Saavedra (Chile – RJ)
Chacal (RJ)
Cíntia Moscovich (RS)
Cristovão Tezza (SC)
Daniel Galera (SP)
Daniel Munduruku (PA)
Eva Furnari (SP)
Fábio Moon e Gabriel Bá (SP)
Fernando Gonsales (SP)
Fernando Morais (MG)
Fernando Vilela (SP)
Ferréz (SP)
Flora Süssekind (RJ)
Francisco Alvim (MG)
Ignácio de Loyola Brandão (SP)
João Almino (RN)
João Gilberto Noll (RS)
João Ubaldo Ribeiro (BA)
Joca Reiners Terron (MT)
José Miguel Wisnik (SP)
José Murilo de Carvalho (MG)
Lelis (MG)
Lilia Moritz Schwarcz (SP)
Lourenço Mutarelli (SP)
Luiz Costa Lima (MA)
Luiz Ruffato (MG)
Manuela Carneiro da Cunha (Portugal – SP)
Marçal Aquino (SP)
Marcelino Freire (PE)
Maria Esther Maciel (MG)
Maria Rita Kehl (SP)
Marina Colasanti (RJ)
Mary del Priore (RJ)
Mauricio de Sousa (SP)
Michel Laub (RS)
Miguel Nicolelis (SP)
Nélida Piñón (RJ)
Nicolas Behr (MT)
Nuno Ramos (SP)
Patricia Melo (SP)
Paulo Coelho (RJ)
Paulo Henriques Britto (RJ)
Paulo Lins (RJ)
Pedro Bandeira (SP)
Roger Mello (DF)
Ronaldo Correia de Brito (CE)
Ruth Rocha (SP)
Ruy Castro (MG)
Sérgio Sant’Anna (RJ)
Silviano Santiago (MG)
Teixeira Coelho (SP)
Veronica Stigger (RS)
Walnice Nogueira Galvão (SP)
Ziraldo (MG)

* Artigo republicado nos sites Dom Total, Santa Tereza Tem, Substantivo Plural, Portal Educação e Observatório da Imprensa.

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